19 03 2021 Fundação Gramaxo

Segundo Livro. Fotografar um projecto de Siza Vieira

António Júlio Duarte 10 de Janeiro de 2020

Depois do livro sobre o Terminal de Cruzeiros de Lisboa, comecei a registar a construção de um projecto do arquitecto Siza Vieira: a Fundação Gramaxo, na Maia.

Neste momento, ainda só consigo pensar no novo trabalho por comparação com o anterior; ainda é cedo para conseguir ter uma autonomia mental acerca deste segundo ensaio. A minha preocupação em documentar a construção do edifício, em fazer um registo das várias fases do projecto, mantém-se, mas, nesta altura, já acho que este trabalho vai ser diferente. A obra não tem a natureza espectacular que a outra tinha: a anterior era um enorme terminal junto ao rio Tejo, numa zona histórica de Lisboa; esta é um pequeno edifício, numa quinta particular, nos limites urbanos da Maia.

O projecto do Siza Vieira mexe de uma maneira completamente diferente com o que já existe, ou implanta-se de uma outra forma. Estou mais interessado no espaço privado onde está inserido: as árvores, o tanque, o muro, as casas antigas. Como é que o edifício está a crescer em diálogo com essas referências que já existem no terreno, apesar de não me parecer que o mais relevante do trabalho venha a ser sobre isso. Acho que vai ser muito mais sobre o edifício pronto, as linhas, a luz, a funcionalidade, como é que vai ser ocupado.

Enquanto no livro do Terminal de Cruzeiros as imagens da obra acabaram por ter um peso grande na selecção final, suponho que neste livro essa fase vai ser menos importante. O edifício vai ter um destaque maior do que a sua construção, pois enquanto no primeiro a construção era numa zona relevante da cidade, no segundo é quase tímida: o próprio edifício, a escala, a simplicidade, o recato do parque, tudo contribui para que a obra seja discreta.

Decidi fotografar a preto e branco. É o registo mais interessante para este projecto de arquitectura. Julgo que vai bem com a simplicidade do edifício, ajuda a anular um pouco o excesso de cor verde que enche o parque, e mostra de uma maneira equilibrada a relação do projecto do Siza Vieira com os volumes urbanos em redor dos muros da fundação. A discrição do edifício, com o seu lado simples e pequeno, precisa de algum isolamento, de aligeirar um pouco o peso e o excesso de ruído visual que existe depois dos muros da Fundação Gramaxo. Depois, o edifício vai ser branco, e a minha escolha permite perceber melhor a relação da luz com o edifício (que acho que é um aspecto relevante na obra do Siza), e vai tornar o trabalho mais simples, espero que mais depurado.