Antigo Matadouro do Porto. O primeiro registo.
António Júlio Duarte
Porto, 25 de Julho de 2021
Esta primeira fase do trabalho foi um reconhecimento do território: conhecer e perceber a estrutura do edifício. Depois, como é uma ruína, tentar intuir coisas que não são visíveis.
Interessou-me registar pormenores da arquitectura do edifício, assim como da função pelo qual ele foi construído ― um matadouro. E isso tem de estar presente nas imagens, para se perceber qual a função original, embora, às vezes, já esteja muito diluída, pois, entretanto, teve outras utilizações ― canil, espaço cultural, etc. Tentei perceber esse lado utilitário do edifício, mas já pensando na maneira como ele vai ser modificado. É interessante pegar num edifício que já teve uma série de funções dentro da cidade e que em breve terá um novo projecto e um outro uso.
Fotografar um espaço construído e abandonado como este é diferente de começar um registo a partir de um espaço vazio, como foram os meus dois trabalhos anteriores (Terminal de Cruzeiros de Lisboa e Fundação Gramaxo). Porque, por um lado, há algo de muito apelativo na ruína. Há o lado romântico de ser um edifício que tem uma memória grande, com várias fases temporais. De certa maneira, é o acesso à vida do edifício, e isso é muito atractivo, até demais ― às vezes, é preciso fugir um pouco da beleza da ruína, desse lado mais fácil que existe e que está sempre presente.
Decidi usar diferentes formatos neste trabalho, e isso tem que ver com aquilo que, para mim, o edifício pede ou o que eu quero dele. O que mais me interessou no edifício foi o facto de ter um lado terrível, de ter sido uma máquina eficiente de morte. O edifício foi pensado para ter uma boa utilização da luz natural, mas depois há uma outra luz, que vem do facto de o edifício estar arruinado. A luz no espaço interior ― as entradas de luz e o seu aproveitamento ― remete muito para as igrejas, assim como a construção do edifício; e isso foi interessante, essa semelhança entre ambas: como é que a arquitectura do matadouro se aproxima da arquitectura de uma igreja. Talvez tenha sido a coisa mais estimulante.