02 07 2024 Fundação Gramaxo

O design do livro sobre a Fundação Gramaxo

Maria João Macedo e Dário Cannatà Porto, 2 de Julho de 2024

O design do livro sobre a Fundação Gramaxo, obra do arquitecto Álvaro Siza Vieira, procura sintetizar alguns valores de espaço, luz e materialidade que podem ser interpretados não só na arquitectura, mas também no registo realizado pelo fotógrafo António Júlio Duarte. Fisicamente, o livro é pesado, austero e limpo. É impresso na íntegra num papel revestido e brilhante (Fedrigoni Symbol Freelife Gloss Premium White 150gr), que, sendo muito compacto, resulta numa lombada relativamente estreita para as suas quase 200 páginas. Em contrapartida, a encadernação em capa dura é feita com um cartão mais fino do que o normal (1,25 mm em vez dos 2 mm habituais). A densidade e estrutura do objecto tornam-se palpáveis. Os materiais apresentam-se em toda a sua verdade e dignidade, sem artifícios. Um livro, como a arquitectura de Siza, intemporal.

O papel escolhido permite também uma reprodução muito rigorosa, em que o preto e branco da fotografia consegue uma grande profundidade de tons, também enriquecidos pela impressão com duas cores directas: o preto e o cinza (Coolgray 4). A composição de página é modernista, a grelha geométrica é reforçada pela escolha tipográfica também moderna. A fonte suíça Theinhardt é utilizada em pesos muito leves e com apenas ligeiras diferenças de espessura para distinguir o português do inglês ou as perguntas das respostas, sem nunca competir com as imagens. Estas, por sua vez, descrevem uma narrativa fluída do início ao fim do livro, sem capítulos nem secções, que começa na envolvente do edifício antes do início da obra, a paisagem onde depois começa a surgir o betão, entrando a seguir na fundação ainda vazia, e voltando a sair com a construção já concluída. Ocasionais desvios para a pedreira, a carpintaria, o mobiliário e o escritório do arquitecto, para terminarmos o livro com as salas da Fundação finalmente habitadas pelas peças da coleção de objectos, pintura e ourivesaria. Uma sequência de imagens que esporadicamente se aproxima dos conteúdos textuais, mas que segue sempre o seu caminho. Com uma tranquila naturalidade.