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Livros Fundação Gramaxo e Claustro do Rachadouro
Estes são livros de arquitectura. Toda a sua estrutura assim os caracteriza. Têm boas e esclarecedoras entrevistas que apreciei ler textos críticos, esquissos, desenhos, desenhos técnicos. Sobre isto, nada quero nem posso dizer. Não gosto de meter foice em seara alheia.
Mas saúdo a ideia do editor: convidar para os projectos dois fotógrafos com provas dadas, ainda que não seja exactamente pela fotografia de arquitectura que melhor os conhecemos. Desafio para eles, que assim provam que os melhores podem fazer de tudo. E bem.
Teresa Siza
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No «estaleiro de obra»: o escritório de Siza
“O escritório de Álvaro Siza, que conheci pela primeira vez em 1985, ocupava um pavilhão de madeira em forma de U, escondido por trás de um vulgar bloco de escritórios na Rua da Alegria, perto do centro do Porto. Naquela época, éramos cinco ou seis jovens colaboradores a trabalhar numa colecção desirmanada de mesas de desenho. Não havia recepcionista, secretária, telemóveis, Internet, computadores, plotters, nem nenhuma das coisas que compõem os escritórios de hoje. Era um espaço transbordante de desenhos energéticos e impacientes, maravilhosas anotações gráficas sobre plantas, armários cheios de desenhos precisos em tinta sobre papel vegetal desbotado, caixas de madeira no átrio provindas de uma qualquer exposição distante — a acumulação de anos de trabalho. Siza não tinha um espaço de trabalho definido. Segundo me lembro, estava em constante movimento, sempre envolvido por uma nuvem de fumo”.
Peter Testa, livro Fundação Gramaxo.
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Não tem uma cartilha de reabilitação.
Não. Quando cheguei a Tavira, havia um telhado, achei que o edifício precisava de manter aquele carácter. Quando fiz o hotel no Alentejo, aquilo não era nada especial, era uma aldeia agrícola de uns senhores, que não viviam ali, mas vinham caçar, e tinham um pavilhão só para caçadores e convidados, e à volta havia uma aldeia cooperativa com o padeiro, o serralheiro, o carpinteiro, e depois eram quilómetros e quilómetros de extensão. Aí, achei que não havia nada para classificar isoladamente, seria uma visão míope, pois aquilo era muito interessante exactamente pelo ambiente. E o ambiente era dado pelas proporções e pelos materiais — as texturas, etc. Portanto, fiz quase tudo novo igual ao antigo, é o que se chama de «pastiche» — eu sou um fiel adepto do pastiche. Que parecia ser pejorativo, e o Távora ensinou-me que não. Quando fui ver a Pousada de Guimarães, havia uma chaminé moderna num telhado, e eu disse: «Professor, isto foi feito agora!» «Fui eu que fiz.» «Mas isto é imitar o antigo.» «É, e qual é o problema? É melhor um bom pastiche do que uma péssima obra original.» Calei-me, e depois andei a pensar anos naquilo: o bom pastiche. Eu fui muito acusado no Barrocal de fazer pastiche. Os meus colegas nas conferências expuseram-se, estavam indignados, «como é que foste capaz de fazer aquilo?». Mas também são inteligentes, e amigos, e foram lá dormir e todos me escreveram: maravilhoso, não havia outra maneira de fazer aquilo, fizeste muito bem! O Carlos Prata fez-me isso. Portanto, cada vez estou mais inclinado para recuperar o mais possível, aproximando do edifício original se conseguir encontrar a forma e a função de uma época em que o agarre, não tem nada de ser o século XIX. Estou mais virado para essa conservação do existente, aproximadamente idêntica ou não ao existente, do que entrar em ruptura e fazer coisas diferentes...
Eduardo Souto de Moura, livro Claustro do Rachadouro
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“Para si, o olhar final, quando a obra está feita, é muito importante?
Como arquitecto paisagista, diria que o olhar final, quando a obra está feita, é muitíssimo importante. No entanto, é muito mais importante ainda o que se segue, que é o modo como as pessoas se apropriam do espaço e também como o espaço em si tem a sua vida própria. Há um livro muito interessante do John Dixon Hunt, The Afterlife of Gardens — é um livro da fase madura da sua vida como professor e como historiador da paisagem —, em que ele escreve que os jardins têm uma vida para lá do momento em que são completos, e isso é muito interessante. Eu sei disto por pensamento e por formação, sei que existe uma vida além do complemento das obras. Lembro-me de ter visitado dois espaços para mim fundamentais: Versalhes, de André Le Nôtre, e Sanssouci, obra maior de Peter Joseph Lenné, dois autores essenciais da cultura europeia em paisagem. Visitei Versalhes imediatamente após a grande destruição que a tempestade de 1999 produziu, destruindo as alamedas fundamentais. Visitei antes e visitei depois da replantação dessas mesmas alamedas. Do mesmo modo, visitei Sanssouci, uma única vez, após a morte de uma série de árvores que tinham atingido a sua maturidade plena: duzentos e poucos anos. As árvores morreram naturalmente e estavam a ser replantadas. Lembro-me de ter visitado esses dois espaços nesses dois momentos e ter pensado: «Mas quando é que um jardim está completo? Quando é que uma obra de arquitectura da paisagem está completa? É quando se acaba de plantar? É quando as árvores morrem? E se morrem, replantam-se?» Quer dizer, não há uma resposta para isso. Então, para responder à tua questão, não é quando estamos a terminar a obra que ela se completa, mas, sim, quando as pessoas se começam a apropriar dela e quando o espaço em si, os elementos, alguns vivos, começam a crescer. Depois, quando é que acaba de facto a obra? É quando eles estão crescidos? “
João Gomes da Silva, livro Termas Romanas de São Pedro do Sul