24 10 2025

Testemunho de Roberto Ragazzi

Roberto Ragazzi

Exposição Siza + Souto de Moura

Fórum da Maia

22 de Março de 2025


Falarei de como estes livros, a sua exactidão, o facto de serem monográficos, são realmente contracorrente, contra tudo, porque nós estamos assoberbados de informações, e quer o discurso que está dentro dos livros, quer a palavra, quer as imagens, as fotografias, as boas fotografias, com um olhar fotográfico, a chamada coisa mental, é algo que nos permite pensar, que nos ajuda a ver as coisas dentro da arquitectura. Alias, esta exposição é o melhor exemplo de como duas visões diferentes nos levam a olhar para as coisas com uma síntese, com uma concentração, com uma exactidão que é cada vez mais difícil. Por exemplo, passando pela opção da Fundação Gramaxo, do preto e branco, da forma das fotografias, do próprio frame da fotografia, que é quadrado, parece claro que não podia ser outra coisa — um bocadinho como o Álvaro Siza, a sua implantação, o seu modo de criar o lugar, é assim e não pode ser outra, o que também é transmitido através da fotografia.

Nesta outra reportagem, com um olhar completamente diferente, que nos põe a olhar para outras coisas talvez completamente invisíveis, a capacidade da fotografia, a sua força, a sua potência, é exactamente a sua capacidade de não estar só a olhar, mas a pôr-nos a ver as coisas, os cromatismos misturados com tudo o que é o processo, com as infraestruturas, os tubos que à partida são horríveis, as coisas azuis e amarelas, etc. Ou seja, estamos a ver uma fotografia, mas que é uma obra de arte por si só, enquanto peça fotográfica, que nos remete para muitos outros universos e nos permite olhar quantas coisas é preciso fazer para chegar àquele resultado final. E, portanto, acho que é mesmo um projecto extremamente louvável este de levar estes livros tão sintéticos, tão concentrados, a falar, a mostrar e a entender a arquitectura. É muito bom podermos gozar (ou só “gozarmos”) deles, porque são cada vez mais uma raridade.