Livro "Termas Romanas de São Pedro do Sul"
João Gomes da Silva
Lisboa, 17 de Dezembro de 2021
Acho que os livros de arquitectura normalmente contêm uma informação, gráfica ou escrita (sob a forma de textos), que em geral é muito centrada e focada no objecto arquitetónico em si, seja ele um edifício ou um jardim, e às vezes beneficia de um olhar crítico de alguém — estou a falar das monografias típicas sobre obras de arquitectura ou de arquitectura paisagista. Portanto, usualmente há informação e há também textos de crítica. O que me parece diferente neste livro é que além de uma informação objectiva, pois existem desenhos e fotografias — que também são já formas de visão crítica sobre o espaço, e estas fotografias têm até uma certa dinâmica porque falam de momentos diferentes da formação do espaço, da sua construção —, existem entrevistas, que são outra forma de nos apercebermos do conteúdo do livro, mas também textos que vêm de outros pontos de vista: neste caso, o texto do Marcelo Mendes Pinto, arqueólogo que participou na obra, e o texto do Jorge de Alarcão, professor de arqueologia, que tem uma visão externa, uma visão crítica sobre o assunto. As fotografias do José Pedro Cortes são um ensaio, um texto visual, que, na minha opinião, introduz não só uma leitura e percepção subjectiva, a do ponto de vista do fotógrafo, mas também a do ponto de vista gráfico, de uma outra complexidade. Portanto, nesse aspecto, há neste livro uma convergência de olhares e um alargamento da amplitude dos pontos de vista sobre o tema em si: as Termas Romanas. Ou seja, há muita mais informação do que normalmente costumamos ter acerca de uma determinada obra.
Sabendo que a obra das Termas Romanas é uma obra que envolve o arqueólogo, o arquitecto, o arquitecto paisagista — talvez por isso, mas também pela forma como foi pensado pelo editor —, o livro fornece aproximações mais diversas do que normalmente uma monografia acerca de uma obra de arquitectura ou de arquitectura paisagista tem. Portanto, essa é, à partida, a diferença, a novidade do livro.
Gosto muito do livro também do ponto de vista gráfico, da sua composição. O facto de ser bilingue permitiu ou fez com que o texto tivesse duas cores, com as duas línguas a andar em paralelo, na horizontal. Habitualmente, temos os textos em inglês e depois os textos em português: aqui, não; aqui, os textos percorrem as páginas numa espécie de corte horizontal. Outro aspecto de que gosto muito é a variação da matéria, do papel, que se adequa, pois há um papel específico para o texto, outro para os desenhos, um outro que é usado para a fotografia, e os separadores são em papel translúcido, vegetal. Portanto, a própria matéria do livro tem essa variação, que me parece muitíssimo interessante e enriquecedora. Depois, há a composição gráfica, que me parece bastante acertada quer ao formato dos desenhos, quer ao formato dos textos, quer à própria composição das fotografias. Por outro lado, há a proporção do livro, que também não é corrente: não é um A4, nem um A3, é uma proporção que nos faz sair da normalidade e entrar num formato especial. Acho que a composição é muito interessante e rica não só pela organização e projecto gráfico, mas também pelos papéis que são usados como suporte, ou seja, o livro vai tendo várias adaptabilidades: há páginas muito macias — as da fotografia —, há páginas mais ásperas e espessas — as dos desenhos —, depois há páginas mais fininhas — as das transparências.
Eu gosto bastante de toda esta diferenciação, que torna o livro muito rico em todos os seus aspectos.
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